Querer
Espero o dia em que poderei dizer,
sucinto, que nada mais tenho a temer,
solidão, desagrega-te de meu ser,
apieda-te, liberta o meu vazio viver.
Espero pelo dia, aquele em que poderia,
dizer que alheio ao tudo, não mais sentiria,
no vazio de meu eu, simplesmente tentaria,
por uma vez, em meu íntimo, me evadiria.
Espero o dia em que poderei,
dizer feliz o quanto te amei,
em meio às lágrimas turvas da face com que sonhei,
que sorvia no lânguido roçar dos lábios que beijei.
Nesse passo, em rude traço, dir-te-ei,
das incontáveis vezes em que lhe falei,
não me deixes, não sei o que farei,
agora, contanto, não mais lhe invocarei.
Espero o dia em que poderei ver que se constrói,
ao regozijo da ferida que dói,
o sofrimento pulsante do herói,
por quem a dama, impassível, se condói.
(imagem-google)