O Bêbado
Deitado às margens da rua,
mísero espectro de homem, sem vintém, muito além,
repousa envolto no manto da noite crua,
à espera, na penúria, por um cúmplice amém.
Se embriaga a fim de afastar,
o sofrer em seu leito indigente,
do triste ardil do não amar,
queda-se, inconsequente, dormente.
Amor, amargor, injusta quimera,
urge exaltar a dor que o fez berrar,
despido do fulgor que então tivera,
ilidir no etílico, o incauto e idílico clamar.
Prostrado no lastro da grua à beira-mar,
inocente e jacente, augúrios de Belerofonte,
delirium tragam-no consigo a fim de liquidar,
a besta que se mostra na cúpula do horizonte.
Inebria o pálido semblante, a triste mente,
sofrida e então vergastada,
aquela que atormentadamente,
roga ainda que inconsciente, pela face da amada.
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